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Pesquisa da UNIFAL‑MG em parceria com a USP revela metais tóxicos em brinquedos e alerta para riscos à saúde infantil

Estudo identificou que brinquedos comuns contêm chumbo, bário, antimônio e outros metais acima de limites de segurança

De acordo com pesquisa, brinquedos vendidos no Brasil têm níveis preocupantes de elementos tóxicos (imagem: Mateus André/Freepik)

A equipe do Jornal UNIFAL‑MG conversou com Bruno Alves Rocha, professor do Instituto de Química (IQ) da UNIFAL‑MG, sobre o estudo que vem ganhando repercussão nacional. A pesquisa, intitulada “Elementos Potencialmente Tóxicos em Brinquedos Brasileiros: uma avaliação de risco à saúde infantil baseada em bioacessibilidade” (Exposure and Health, 2025), avalia a presença de metais potencialmente tóxicos em brinquedos e, segundo o docente, “é o trabalho mais abrangente já feito no Brasil com foco na contaminação química de produtos infantis”.

O estudo envolveu uma equipe multidisciplinar formada por oito pesquisadores: “Eu, Matheus Gallimberti, Gabriel Savietto, Ramon Paula, Marília Souza, Grazielle Lima, Mariane Santos e Fernando Barbosa Jr.”, conta o professor, ressaltando a colaboração entre o Laboratório de Toxicologia Analítica e de Sistemas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (USP) e o Instituto de Química da UNIFAL‑MG.

Os pesquisadores analisaram 70 brinquedos plásticos de fabricação nacional e importados, comprados em estabelecimentos formais e informais. A análise revelou não conformidades regulatórias significativas, principalmente para bário e chumbo. “Detectamos que 44,3 % das amostras excederam o limite para bário e 32,9 % para chumbo, com concentrações de chumbo chegando a quase quatro vezes o valor permitido”, afirma o professor Bruno. Outros elementos, como antimônio e cromo, também apresentaram violações importantes, reforçando o cenário de contaminação múltipla.

Bruno Alves Rocha – professor visitante do Programa de Pós-Graduação em Química

O professor destaca três pontos que chamaram atenção: “Primeiro, a escala das não conformidades, com alguns brinquedos apresentando concentrações superiores a 15 vezes o limite para bário. Segundo, a alta frequência de detecção de vários elementos tóxicos em uma única amostra. Terceiro, que mesmo frações bioacessíveis muito baixas (0,11 % a 7,33 %) resultaram em índices de risco elevados em cenários de maior exposição.” Esses achados mostram que o risco depende não só da quantidade total de metal, mas de quanto se libera no organismo.

Metodologia e amostragem

A equipe “priorizou itens destinados a crianças de 0 a 12 anos, como carrinhos, bonecas, brinquedos educativos, instrumentos musicais e figuras de animais, excluindo eletrônicos e peças com mais de 50 % de material não plástico”. As amostras foram submetidas a digestão em ácido clorídrico a 37 °C para estimar a bioacessibilidade — fração do contaminante que migra em condições simuladas de uso. A quantificação foi feita por espectrometria de massa com plasma indutivamente acoplado (ICP‑MS) e os índices de risco foram calculados conforme parâmetros da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (USEPA). “Focamos especialmente no grupo etário de 6 a 12 meses, pois esses bebês têm maior comportamento de levar objetos à boca”, ressalta Bruno Rocha.

Ao comentar o impacto dos resultados, o docente observa que o estudo preenche uma lacuna ao integrar, de forma sistemática, a bioacessibilidade e a avaliação quantitativa de risco. “Essa abordagem permite que os órgãos reguladores priorizem produtos com base em dados mais realistas de exposição. É uma diferença em relação a trabalhos anteriores, que consideravam apenas a concentração total do metal.”

Riscos para a saúde e orientações às famílias

O estudo associa a exposição ao chumbo com impactos neurocognitivos e à ausência de nível seguro conhecido; o bário está relacionado a arritmias e paralisia; o antimônio pode causar irritações gastrointestinais; e o cromo hexavalente é reconhecido por seu potencial carcinogênico. Questionado sobre as implicações, Bruno Rocha aconselha: “O objetivo não é desencorajar o brincar, mas promover escolhas mais conscientes. As famílias devem priorizar brinquedos com procedência e certificação, evitar itens sem origem clara e supervisionar bebês que levam objetos à boca.”

O professor esclarece que a investigação foi iniciada na USP e concluída durante seu período como professor visitante na UNIFAL‑MG. “Este estudo específico se encerrou, mas estamos desenvolvendo novos projetos em colaboração com a USP, unindo formação de alunos, técnicas analíticas avançadas e avaliações de risco.” A pesquisa contou com financiamento da FAPESP e do CNPq.

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